Experimento cênico leva figura popular para o teatro no Rio


Gorila do Saco traz a dança e a pesquisa de mascaradas para a abertura do Festival Palavra Líquida 2025 no Sesc Copacabana, Madureira e São João de Meriti, em apresentações gratuitas. Foto: Brigiti Bandini

Resultado de uma pesquisa de seis anos, o experimento cênico “Gorila de Saco” estreia nos palcos do Sesc como parte da abertura oficial da décima edição do Festival Palavra Líquida. O trabalho, que já se desdobrou em filme e folguedo, chega ao teatro pela primeira vez, buscando resgatar a figura do gorila de saco do lugar da violência e do estigma social.

Tradicionalmente presente nas ruas das favelas do Rio de Janeiro, especialmente na Zona Norte e na Zona Oeste, o gorila de saco transitava à noite, amedrontando e divertindo crianças, performando como um animal imaginário que se tornou símbolo de uma cultura de rua efêmera, mas inesquecível. Inspirado nessa tradição, o projeto transforma anos de pesquisa em um espetáculo que celebra a mascarada, a ancestralidade e a resistência cultural.

A obra é movimentada pela artista transdisciplinar e dramaturga nascida na Zona Oeste do Rio, Luzé Gonçalves, integrante de uma família que preserva a tradição dos gorilas do saco, e é realizada pela Entretempo Produções. Direção e dramaturgia assinados pela parceria entre Renata Tavares e Luzé Gonçalves. Encenado por VN Rodrigues, com trilha sonora e música ao vivo de Beà Ayóòla, o espetáculo ganha vida nos palcos por meio da dança e da música, proporcionando uma imersão na cultura popular.

Memória e resistência

Por conta de seu passado, o personagem ainda sofre preconceito e é pouco compreendido pela sociedade, sendo associado a atos violentos e até proibido em alguns lugares. No entanto, para Luzé, esse estigma não representa a verdadeira natureza da fantasia, que carrega consigo resistência cultural e identidade popular, distante da criminalidade equivocadamente associada a ela.

Como um dos destaques do Festival Palavra Líquida, que celebra o tempo e a festa, a peça convida o público a ir além do estigma e a mergulhar em uma história de ancestralidade e resistência. "É meu desejo, ao fazer o filme, o folguedo e agora essa apresentação, que a gente tire o gorila de saco do lugar da violência e do estigma. O que estamos fazendo é celebrando a mascarada e sua ancestralidade", ressalta Luzé Gonçalves.

Com classificação de 12 anos e duração de 30 minutos, o projeto tem as primeiras apresentações marcadas para os dias 5 e 6 de setembro no Sesc Copacabana, com uma apresentação especial no dia 14 de setembro no Sesc São João de Meriti, na Baixada Fluminense.

O trabalho tem um forte apelo pessoal para a idealizadora,  que cresceu em Padre Miguel e carrega a tradição do carnaval em sua própria família. Essa conexão íntima com a cultura de rua, torna a obra ainda mais potente.

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Ficha Técnica

 Título: GORILA DE SACO | dançar o vento que afasta a morte

 Idealização e Pesquisa: Luzé Gonçalves

 Produção: Juliana Gonçalves

 Direção e Dramaturgia: Renata Tavares e Luzé Gonçalves

 Dançarino: VN Rodrigues

 Trilha Sonora e Musicista: Beà Ayóòla

 Gorila de Saco: Mônica Nunes Basílio

 Figurino: Wanderley Gomes

 Instalação de LED: Matheus Petrovich

 Cenotécnico: Rafael Rougues

 Iluminação: Brisa Lima

 Foto: Brigiti Bandini

 Designer: Isza Santos

Serviço

 O quê: "Gorila de Saco"

 Quando: 5, 6 e 14 de setembro de 2025

 Onde: Sesc Copacabana (5 e 6 de setembro) e Sesc São João de Meriti (14 de setembro)